Podemos imaginar os desejos como vestígios de nossa natureza primitiva, instintos que nos sussurram em busca de prazer imediato, enquanto a razão é aquela voz mais antiga e sábia, que observa antes de agir. Dentro de nós, há duas naturezas em constante tensão: uma, onde o corpo se move por si só, guiado pelos impulsos; outra, onde a mente, serena e refletida, pondera cada passo, cada escolha.
Essas duas mentes caminham em conflito. O desejo, nossa mente irracional, persegue o prazer e a fuga do desconforto, evitando qualquer esforço ou cansaço. A razão, por outro lado, ergue-se como um farol que ilumina os perigos que a impulsividade pode nos trazer. Pensemos no exemplo do álcool: uma pessoa, ao levantar o copo, sabe, lá no fundo, que aquilo poderá prejudicá-la com o tempo. Contudo, ainda assim, o desejo vence, e o primeiro gole é dado. Assim começa a dança delicada entre o desejo e a razão, um embate silencioso que pode dar início a algo muito maior, como o início de um vício. Nesse cenário, a consciência é quem tem a palavra final, decidindo entre seguir os impulsos do corpo ou os conselhos da mente.
Essa divisão entre a mente racional e a irracional também nos ajuda a compreender o abismo que separa o homem dos animais. Aristóteles, em sua sabedoria, desenha essa linha com clareza: o ser humano tem o poder da razão, que o guia em suas ações, enquanto o animal é refém de seus instintos, agindo sem a luz da reflexão.
Se fosse para dar rosto à razão, ela seria como um ancião, cujo olhar, ao atravessar o tempo, consegue enxergar o que o jovem, impetuoso, não vê. Já o desejo, este poderia ser comparado a um jovem, cheio de vigor e pressa, correndo em busca de tudo, sem pensar nas quedas que pode encontrar pelo caminho.