É sempre nobre caminhar ao lado da justiça, seguir pelo trilho do bem e cultivar a paz. Mas o mundo, imperfeito e ainda em construção, nem sempre responde com gentileza à bondade. Às vezes, é preciso despir a pele de ovelha e vestir a do lobo.
Ser apenas dócil pode nos deixar expostos ao corte do mundo. Por isso, é preciso aprender a arte do equilíbrio: saber quando ceder e quando rugir, quando acolher e quando impor presença. Transitar entre a doçura e a firmeza sem remorso — quando o momento exige, que venha o lobo, mas que ele venha com propósito.
É verdade que o lobo carrega o peso do instinto, da força bruta. Mas se guiado pela razão, ele se transforma. De predador, vira protetor. Nessas horas, o lobo não é vilão — é guardião. Age quando necessário, com consciência e controle. Essa postura se aproxima do que os antigos chamavam de aretê: a excelência de caráter que nasce quando a força é moldada pela sabedoria. Não é a ausência do instinto que faz alguém sábio, mas a coragem de usá-lo com lucidez, sem se perder em impulsos.
Reprimir esse lado selvagem é perigoso. O que é contido demais, um dia transborda. Assim como o cão acorrentado se torna mais feroz, o ser humano que sufoca sua natureza corre o risco de explodir por dentro. Melhor do que esconder o lobo é compreendê-lo, escutá-lo, deixá-lo à espreita — pronto, mas sereno.
Ser ovelha ou ser lobo não é uma escolha definitiva. A verdadeira sabedoria está em reconhecer o momento certo de ser cada um. E, quando for preciso, permitir que o lobo caminhe ao seu lado — não como senhor, mas como servo da consciência.


