quarta-feira, 23 de abril de 2025

ENTRE A OVELHA E O LOBO

É sempre nobre caminhar ao lado da justiça, seguir pelo trilho do bem e cultivar a paz. Mas o mundo, imperfeito e ainda em construção, nem sempre responde com gentileza à bondade. Às vezes, é preciso despir a pele de ovelha e vestir a do lobo.

Ser apenas dócil pode nos deixar expostos ao corte do mundo. Por isso, é preciso aprender a arte do equilíbrio: saber quando ceder e quando rugir, quando acolher e quando impor presença. Transitar entre a doçura e a firmeza sem remorso — quando o momento exige, que venha o lobo, mas que ele venha com propósito.

É verdade que o lobo carrega o peso do instinto, da força bruta. Mas se guiado pela razão, ele se transforma. De predador, vira protetor. Nessas horas, o lobo não é vilão — é guardião. Age quando necessário, com consciência e controle. Essa postura se aproxima do que os antigos chamavam de aretê: a excelência de caráter que nasce quando a força é moldada pela sabedoria. Não é a ausência do instinto que faz alguém sábio, mas a coragem de usá-lo com lucidez, sem se perder em impulsos.

Reprimir esse lado selvagem é perigoso. O que é contido demais, um dia transborda. Assim como o cão acorrentado se torna mais feroz, o ser humano que sufoca sua natureza corre o risco de explodir por dentro. Melhor do que esconder o lobo é compreendê-lo, escutá-lo, deixá-lo à espreita — pronto, mas sereno.

Ser ovelha ou ser lobo não é uma escolha definitiva. A verdadeira sabedoria está em reconhecer o momento certo de ser cada um. E, quando for preciso, permitir que o lobo caminhe ao seu lado — não como senhor, mas como servo da consciência.



segunda-feira, 21 de abril de 2025

Quando a Alma Busca a Natureza

 Vivemos cercados de ruídos — sons, imagens, pressas. No meio disso tudo, às vezes surge uma inquietação que nos leva a buscar o silêncio, o vento, o verde, a luz suave do amanhecer ou o descanso do entardecer. Essa busca não é apenas por paisagens bonitas. É mais sutil. Mais profunda.

E foi refletindo sobre isso que me perguntei: o que realmente me faz buscar a natureza?

Já percebi que não é a paisagem em si que me atrai, embora sua beleza seja inegável. Tentei diversas vezes apenas contemplar, como quem olha um quadro em uma galeria. Mas logo percebi que havia algo além disso. O que me chama é invisível. É quase espiritual. Uma espécie de energia silenciosa, um chamado interior.

Na natureza, sinto uma conexão difícil de descrever. É como se ela falasse uma linguagem que não precisa de palavras, mas que meu corpo e minha alma compreendem com facilidade. Nos momentos em que estou diante do nascer do sol, ou apenas sentado em uma praça observando o movimento da vida — sem pressa, sem propósito definido — percebo que ali acontece um reencontro. Uma lembrança do que sou, longe das exigências e expectativas do mundo.

O prazer de simplesmente estar. De sentir a brisa no rosto. De ouvir sons que não exigem resposta. Tudo isso forma uma espécie de templo ao ar livre, onde o sagrado não é imposto, mas revelado. E quando levo comigo um livro, a experiência se aprofunda. A leitura se torna quase meditativa. As palavras ganham densidade, como se a própria natureza participasse do diálogo entre mim e o texto.

Acredito que essa busca pela natureza, no fundo, é uma tentativa de voltar para casa. Não uma casa de tijolos, mas um estado de espírito. Um lugar interior onde é possível apenas ser, sem precisar provar nada a ninguém. E talvez seja esse o maior presente que a natureza nos oferece: a lembrança de que a vida pode ser simples, sensível e profundamente significativa — se nos permitirmos escutá-la.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

O prazer como força que nos move — um olhar pessoal com um toque de Platão

 Sempre pensei que o prazer tem um papel essencial na vida da gente. Ele é como um motor silencioso que nos faz buscar coisas — pessoas, momentos, experiências. Sem ele, acho que a gente até poderia viver... mas não sei se viveria de verdade.

Pega, por exemplo, as relações entre homem e mulher. O que leva alguém a sair do seu canto, da sua rotina, e buscar estar com outra pessoa? Às vezes a pessoa tá bem sozinha, tranquila, mas sente falta de algo. E aí vem o desejo de companhia, o prazer de um abraço, a sensação boa de estar junto, dividindo a vida com alguém. Isso move.

E não falo só de relacionamento amoroso. O prazer também está na arte que a gente escuta, no livro que prende, naquela comida que conforta, na risada com amigos. Em tudo isso, tem uma busca por sentir algo bom, algo que vale a pena.

Platão, o filósofo lá da Grécia antiga, também falava sobre isso. Ele dizia que o prazer pode ser um começo, uma espécie de ponto de partida. A gente começa desejando o que é bonito aos olhos, por exemplo, mas se olhar mais fundo, pode acabar buscando algo maior — a beleza da alma, do saber, da verdade.

Ou seja, o prazer pode ser só o início de uma escada. Se a gente souber subir, ele nos leva pra lugares mais altos. Mas se ficar só ali embaixo, preso no que é imediato, pode ser que a gente nunca descubra o que tem além.

Então sim — eu acredito que o prazer nos move. E que, se usado com consciência, ele não é um inimigo da razão, mas um aliado na busca por uma vida mais plena e verdadeira.

Mais lidas